terça-feira, 31 de março de 2009

A Igreja, o Papa e a AIDS (I)

Em sua recente viagem à África, algumas palavras do Papa (ditas ainda no voo que o levava para lá) causaram polêmica mundial ao criticar a distribuição de preservativos como forma de combater a AIDS. Não faltaram manifestações de desaprovação às declarações do Papa, que o acusaram de ser genocida (em virtude da terrível situação africana) e acusaram a Igreja de ser insensível e ao mesmo tempo um obstáculo ao problema da AIDS que atinge muitas pessoas no mundo.

Em momento algum o Papa disse que os preservativos não servem para evitar a contaminação da AIDS. O que ele fez foi uma crítica aos programas e políticas públicas de saúde que gastam rios de dinheiro apenas com a compra e distribuição de preservativos: “(...) não se pode superar este problema da AIDS só com dinheiro, mesmo se necessário; mas, se não há a alma, (...), não se pode superá-lo com a distribuição de preservativos: ao contrário, aumentam o problema”.

Numa entrevista à agência ZENIT, o dr. José Maria Simón (presidente da Federação Internacional de Médicos Católicos - FIAMC) explicou que, para entender o que a Igreja diz sobre o preservativo, é necessário compreender o que é o amor, como explicou o próprio Papa aos jornalistas, apesar de que essa parte de sua conversa foi censurada pela maior parte dos meios de comunicação.

A mídia não divulgou o complemento do raciocínio do Papa. Mutilaram sua declaração e deram destaque só ao que lhes interessava. O que o Bento XVI disse foi que “A solução pode vir apenas da conjugação de dois fatores: o primeiro, uma humanização da sexualidade, isto é, uma renovação espiritual e humana que inclua um novo modo de comportar-se um com o outro; o segundo, uma verdadeira amizade também e sobretudo pelas pessoas que sofrem, a disponibilidade à custa até de sacrifícios, de renúncias pessoais, para estar ao lado dos doentes. E estes são os fatores que ajudam e proporcionam progressos visíveis.”

O que o Papa quer dizer com “humanização da sexualidade” é tudo o que a sociedade moderna não quer saber hoje em dia e o que a Igreja sempre pregou desde sempre: que o sexo envolve o comprometimento afetivo e responsável entre duas pessoas que se amam, que tem seu principal alicerce na fidelidade. Não é uma “coisa”, algo que possa ser feito de modo livre, sem compromisso, como a sociedade atual tanto apregoa por aí.

Falar em abstinência em pleno século XXI soa meio brega, não é? Mas em um continente onde a AIDS constitui uma verdadeira epidemia, ela salva vidas. Um artigo publicado no L’Osservatore Romano em 22.03, de autoria da jornalista italiana Lucetta Scaraffia informa que o único país africano a obter resultados concretos na luta contra a AIDS foi Uganda, que adotou um método conhecido por ABC, sigla em inglês onde “A” significa abstinência, “B”, fidelidade e “C” preservativos. Pode não estar totalmente de acordo com o que a Igreja recomenda, mas a inclusão da abstinência e da fidelidade como “programas de saúde” trouxe os resultados concretos, com a redução nos índices de pessoas infectadas.

Nesse mesmo artigo, a jornalista, afirma que “muitos países ocidentais não quiseram reconhecer a verdade das palavras do Papa seja por motivos econômicos – já que os preservativos têm um custo, enquanto a abstinencia e a fidelidade são gratuitas – seja porque temem que razão à Igreja sobre um ponto central do comportamento sexual possa significar um retrocesso para aqueles que, em nossos tempos atuais, consideram o sexo livre e sem compromisso uma conquista.”

O Papa Ratzinger não causou polêmica alguma; apenas cumpriu a sua missão de dizer a verdade.

Bruno Melo

A entrevista do Papa pode ser lida no site da Santa Sé, pelo link:
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/march/documents/hf_ben-xvi_spe_20090317_africa-interview_po.html

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