quarta-feira, 3 de março de 2010

A geração do matrimônio

Para os jovens, a felicidade conjugal é prioridade
Por Carl Anderson em New Heaven, EUA, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).

Dentre as muitas coisas que nos fazem lembrar João Paulo II, certamente está sua capacidade de falar aos jovens. A instituição da Jornada Mundial da Juventude, uma tradição mantida por Bento XVI, revelou-se uma ocasião de ensinamento, uma forma de comunicar-se com as futuras gerações de pais católicos, sacerdotes e religiosos.

Uma recente pesquisa conduzida pelos Cavaleiros de Colombo e pelo Marist Institute for Public Opinion evidencia a importância de comunicar às novas gerações de católicos. O resultado do estudo, aplicado a jovens americanos nascidos entre 1978 e 2000, chamados de millennials, revelou elementos de esperança, mas também de preocupação pela Igreja Católica, que devem ser levados em consideração pelos evangelizadores católicos ao lidarem com os jovens.


Um fato encorajador revelado pela pesquisa é o de que entre os millennials que se identificaram como católicos – não apenas os católicos praticantes – 85% disseram crer em Deus. Suas proridades são o matrimônio e a proximidade com Deus. Cerca de 82% destes jovens acredita que a importância do matrimônio tem sido subestimada, enquanto mais de 60% consideram práticas como o aborto e a eutanásia moralmente erradas.

Estas são boas notícias. Mas o que verdadeiramente preocupa é que 61% dos jovens entrevistados acreditam ser justo para os católicos praticar mais de uma religião. Quase dois terços deles se consideram mais espirituais que religiosos, enquanto que 82% consideram as questões morais “relativas”.

Estes não são problemas teóricos, são fatos concretos. E são fatos sobre os quais Bento XVI, com uma incrível capacidade de antevisão, já antecipava há 5 anos.

Durante a cerimônia fúnebre de João Paulo II, num dos dias que antecederam sua eleição papal, o então cardeal Joseph Ratzinger alertou contra a “ditadura do relativismo”.

Disse: “Ter um fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente rotulado de fundamentalismo. Enquanto que o relativismo – isto é, deixar-se levar por qualquer vento de doutrina – aparece como a única atitude adequada aos tempos modernos. Assim se constrói uma ditadura do relativismo, que nada reconhece como definitivo e que estabelece como última medida apenas o eu e suas vontades”.

Uma outra medida
Como alternativa a uma tal visão distorcida de mundo, ele propõe “uma outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. ‘Adulta’ não é a fé que segue as ondas da moda ou as últimas novidades; adulta e madura é a fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom, e nos confere critério para decidir entre o verdadeiro e o falso, entre o engano e a verdade”.

Esta geração busca o amor. Quer o matrimônio – isto é, o amor verdadeiro – mais do que qualquer outra coisa. Vê que o amor no matrimônio tem sido desvalorizado.

Em uma entrevista concedida a uma publicação alemã, Bento XVI ilustrou mais precisamente como colocar em prática a solução proposta. O que é necessário – disse ele – é apresentar o que de positivo e de feliz a vida cristã pode oferecer.

Em particular, disse ele: “O cristianismo, o catolicismo, não é uma acumulação de proibições, mas sim uma opção positiva. E é muito importante que esta concepção seja restaurada, uma vez que, nos dias de hoje, está quase completamente desaparecida. Falou-se tanto sobre o que não seria permitido, que agora precisamos dizer: temos uma proposta positiva: o homem e a mulher são feitos um para o outro, existe uma escala – por assim dizer: sexualidade, Eros, Ágape, que são as dimensões do amor. E assim se constitui inicialmente no matrimônio o encontro pleno de felicidade entre um homem e uma mulher, em seguida a família, que garante a continuidade através das gerações, e na qual se realiza a reconciliação entre as gerações. Por isso, primeiramente, é necessário deixar claro aquilo que defendemos.”

Recentemente, o Papa retomou esta mensagem aos bispos da Escócia, acrescentando: “Estejam certos de apresentarem este ensinamento de modo que seja reconhecido como a mensagem de esperança que é”.

Aos olhos de um grupo que considera o matrimônio como a mais alta das prioridades e que entende que seu valor é subestimado pela sociedade, uma Igreja que proclama a beleza do sentido cristão do matrimônio é uma Igreja que apresenta uma mensagem capaz de reverberar pela futura geração de pais católicos.

Este é precisamente o caminho indicado por Bento XVI. Alguns descrentes dirão que os jovens não querem ouvir. Mas o fato é este: quase dois terços dos jovens entrevistados disseram estar muito interessados em aprender mais sobre sua fé. Este é o motivo pelo qual a elaboração do documento que trata da questão da família, a cargo do Conselho Pontifício para a Família, é tão importante.

Cabe a nós apresentar a fé de um modo que faça sentido para as vidas dos jovens católicos, e não melhor maneira de fazê-lo que recorrendo à riqueza teológica e pastoral dos ensinamentos de João Paulo II e Bento XVI – mostrar aos jovens como construir matrimônios felizes, sadios e, definitivamente, santos.

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