Entrevista com a escritora Mary Eberstadt. Washington, quinta-feira 30 de junho de 2010 (ZENIT.org)
O Cristianismo tem em si uma credibilidade maior do que querem fazer parecer, afirma a autora do livro “The Loser Letters: A Comic Tale of Life, Death and Atheism”, recentemente publicado pela editora Ignatius Press. Nesta entrevista concedida a ZENIT, Mary Eberstadt, pesquisadora do Hoover Institute de Washington, fala de sua abordagem apologética particular direcionada à “geração Facebook”.
Seu livro tem um título provocativo, “The Loser Letters”. O que tinha em mente ao escolher este título?
Eberstadt: “The Loser Letters” é uma sátira epistolar do novo ateísmo, cuja protagonista, A. F. Christian, é uma jovem mundana americana, entusiasta convertida à inexistência de Deus.
O livro é constituído por suas exuberantes cartas de admiração endereçadas aos novos ateus - Dawkins, Hitchens, Dennett e outros. A protagonista busca evidenciar as deficiências de seu movimento com o intuito de reforçá-lo. Mais tarde, com o desenvolvimento da história e a narrativa de sua conversão, o leitor compreende que está ocorrendo algo diferente.
Conforme a protagonista sublinha no início do livro, se os novos ateus têm razão sobre Deus e se todos os crentes no curso da história estavam errados, então Deus seria o maior “perdedor” (“loser”) de todos os tempos. Por essa razão, ela se refere a Deus como o “Perdedor” (“Loser”), com letra maiúscula.
É um livro que se desenvolve em diferentes níveis e que, portanto, os maiores de 16 anos podem lê-lo com interesse, principalmente porque é satírico do início ao fim. Mas eu tinha em mente em especial os leitores com mais de 20 ou 30 anos, que podem nunca ter recebido uma apologética tradicional e que não estão cientes da existência de uma vigorosa tradição que se opõe às argumentações apresentadas pelos famosos ateus modernos.
Para além da sátira, o livro é uma apologética para a geração do Facebook.
Quais são os argumentos convincentes do Cristianismo que deveriam ser considerados pela retórica ateísta na batalha pelas conversões?
Eberstadt: Um dos aspectos do novo ateísmo que possibilitam uma sátira fácil é que seus expoentes, em geral, têm poucos conhecimentos de história. Conforme evidencia A. F. Christian, não sem ironia, os fatos relativos ao Cristianismo do mundo – sejam históricos, intelectuais ou artísticos – são um tanto diferentes do que estes pintam.
Por exemplo – como explica A. F. em uma de suas cartas – se os novos ateus pretendem insistir no assunto dos mortos pela Inquisição, como efetivamente todos o fazem, isto é sem dúvida legítimo; mas o que dizer dos mortos do Comunismo e do Fascismo alemão – os regimes declaradamente ateus responsáveis pelos mais odiosos crimes do século XX?
Em outra carta, A. F. adverte de modo análogo que os ateus passam ao largo das discussões sobre estética, pois esta nada mais seria que uma fonte de problemas. De fato, sublinha ela, a maior parte da melhor música, arquitetura, literatura, pintura e escultura no curso da história humana foi criada em nome do “Perdedor” – ou, no que se refere à antiguidade clássica, dos “perdedores” no plural, como afirma a protagonista do livro.
Estes são alguns dos exemplos de como A. F. Christian coloca os ateus em confronto com suas próprias concepções equivocadas e sua ignorância no que se refere à contribuição judaico-cristã. A protagonista prossegue lembrando os ateus que seu único objetivo ao criticar o movimento é torná-lo mais persuasivo para as pessoas a serem convertidas. Mas, até o final do livro, o leitor descobrirá que nem tudo ocorre como se pensava.
A senhora menciona no livro uma reação do tipo “Ozzie and Harriet”. Do que se trata e qual seu significado em nossa cultura?
Eberstadt: “Ozzie and Harriet” era um programa televisivo americano muito popular na década de 50, protagonizado por uma família feliz composta por pai, mãe e dois filhos. Nos EUA, tornou-se um paradigma que com frequência é usado como estereótipo. Por exemplo, quando os ditos “progressistas” pretendem denegrir o conceito tradicional de família, evocam “Ozzie and Harriet” como um modelo desagradável.
O que é interessante é que esta forma de ostracismo da família natural, promovida sobretudo pelos críticos de esquerda, é desmentida – de maneira surpreendente – pela própria cultura popular dos jovens, que vibra justamente com o desejo daquela família íntegra, composta por mãe, pai e filhos.
Por exemplo, um dos cantores pop mais criticados das últimas décadas é o rapper desbocado Eminem. E, no entanto, ao escutar suas músicas, vemos que as letras remetem continuamente aos temas recorrentes da cultura juvenil: a raiva do pai que abandonou a família, o desejo de dar à irmãzinha um pai de verdade, a determinação de ser um pai melhor.
Esta reação cultural, que é muito concreta para aqueles que efetivamente a escutam e observam suas formas de expressão, é todavia mal compreendida. E, ainda assim, exprime algo de muito profundo: pode-se criar os jovens fora do ambiente da família, mas não se pode erradicar seu anseio por ter uma família natural verdadeira.
Por extensão, creio que os jovens buscam, da mesma maneira instintiva, também por outras instituições tradicionais rejeitadas pela cultura secularizada. Refiro-me em particular à Igreja. Ao narrar as “Loser Letters” em seu próprio vernáculo, espero mobilizar alguns destes anseios profundos.
Diversos livros já foram escritos tratando das incongruências dos ateus, tais como “Faith of the Fatherless: The Psychology of Atheism” de Paul Vitz. A. F. Christian, como nos revelam as páginas do livro, tem uma vida turbulenta e marcada pelo uso de drogas. Este elemento tem a intenção de expressar algum humor negro?
Eberstadt: Absolutamente sim. A. F. Christian poderia, num certo sentido, encarnar qualquer jovem. É uma personagem com a qual todos podem se identificar: uma jovem nascida numa família religiosa, que frequentou a universidade e acabou por perder a fé, para então, mais tarde, na vida adulta, perceber que o abandono religioso se mostrou danoso.
O que tento destacar é que as coisas ruins que ocorrem com A. F. não se dão por acaso, mas justamente porque nosso mundo secularizado torna os jovens mais vulneráveis a todo tipo de tendências nocivas. E creio que isto seja especialmente verdadeiro para as meninas.
Fazer apologia da liberdade sexual, como todo ateu faz, tem um aspecto negativo que nenhum deles admite: torna mais fácil a exploração das mulheres, em nome da liberdade - como acaba descobrindo a própria A. F.
ZENIT: Seu livro é uma sátira sobre a incapacidade do ateísmo em compreender certas realidades. Há algum conselho – além, é claro, o de ler o livro! – sobre como os católicos podem contribuir para a difusão da verdade sobre o que o Cristianismo tem realmente a oferecer?
Eberstadt: Uma das razões do sucesso das retóricas ateístas no ocidente reside no fato dos ateus serem assertivos, francos e enérgicos em suas considerações. Os jovens respondem positivamente aos adultos assertivos.
Assim, creio que a solução para aqueles dispostos a contrastar este movimento - ou aqueles que simplesmente desejam evitar tornarem-se insensíveis a nossa civilização ocidental - seja aprender com o próprio movimento ateísta sua postura pró-ativa.
Não importa se somos escritores, líderes entre os jovens, educadores ou operários; todos somos chamados a assumir uma posição, mais cedo ou mais tarde. E quando o fizermos, devemos fazê-lo – para falar em linguagem futebolística – no ataque, não na defesa. Também por essa razão decidi escrever este livro.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
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