O segundo ponto é: a Sagrada Escritura introduz na comunhão com a família de Deus. Por conseguinte, não se pode ler sozinhos a Sagrada Escritura. Não há dúvida de que é sempre importante ler a Bíblia de modo muito pessoal, num diálogo pessoal com Deus, mas ao mesmo tempo é importante lê-la na companhia de pessoas com as quais se caminha. Deixar-se ajudar pelos grandes mestres da "Lectio divina". (...) Estes mestres ajudam-nos a compreender melhor e também a aprender como ler bem a Sagrada Escritura. Depois, em geral, é oportuno lê-la também em companhia dos amigos que estão a caminho conosco e procuram, juntos, o modo de viver com Cristo, qual deve ser a vida que nos vem da Palavra de Deus.
O terceiro ponto: se é importante ler a Sagrada Escritura ajudados pelos mestres, acompanhados pelos amigos, pelos companheiros de caminhada, é importante em particular lê-la na grande companhia do Povo de Deus peregrino, isto é, na Igreja. A Sagrada Escritura tem dois sujeitos. Antes de tudo, o sujeito divino: é Deus que fala. Mas Deus quis envolver o homem na sua Palavra. Enquanto os muçulmanos têm a convicção de que o Alcorão seja inspirado verbalmente por Deus, nós cremos que a Sagrada Escritura se caracteriza como dizem os teólogos pela "sinergia", a colaboração de Deus com o Homem. Ele envolve o seu Povo com a sua palavra e assim o segundo sujeito o primeiro sujeito, como disse, é Deus é humano. Nela há escritores individuais, mas também a continuidade de um sujeito permanente o Povo de Deus que caminha com a Palavra de Deus e está em diálogo com Deus. Ouvindo Deus, aprende-se a ouvir a Palavra de Deus e depois também a interpretá-la. E assim a Palavra de Deus torna-se presente, porque as pessoas morrem, mas o sujeito vital, o Povo de Deus, está sempre vivo, e é idêntico ao longo dos milênios: é sempre o mesmo sujeito vivente, no qual vive a Palavra.
Explicam-se assim também muitas estruturas da Sagrada Escritura, sobretudo a chamada "releitura". Um texto antigo é lido de novo noutro livro, digamos 100 anos mais tarde, e então o que ainda não era compreensível naquele momento precedente é compreendido em profundidade, mesmo se já estava contido no texto precedente. E volta a ser lido de novo mais tarde, e de novo se compreendem outros aspectos, outras dimensões da Palavra, e assim nesta permanente releitura e reescritura no contexto de uma continuidade profunda, enquanto se sucediam os tempos da expectativa, a Sagrada Escritura cresceu. Por fim, com a vinda de Cristo e com a experiência dos Apóstolos a Palavra tornou-se definitiva, de forma que não podem haver mais reescrituras, mas continuam a ser necessários novos aprofundamentos da nossa compreensão. O Senhor disse: "O Espírito Santo introduzir-vos-á numa profundidade que agora não podeis ter". Por conseguinte, a comunhão da Igreja é o sujeito vivo da Escritura. Mas também agora o sujeito é o próprio Senhor, o qual continua a falar na Escritura que temos nas mãos. Penso que devemos aprender estes três elementos: ler em diálogo pessoal com o Senhor; ler acompanhados por mestres que têm a experiência da fé, que entraram na Sagrada Escritura; ler na grande companhia da Igreja, em cuja Liturgia estes acontecimentos se tornam sempre de novo presentes, na qual o Senhor fala agora conosco, para que, lentamente entremos cada vez mais na Sagrada Escritura, na qual Deus fala realmente conosco, hoje.
fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2006/april/documents/hf_ben-xvi_spe_20060406_xxi-wyd_po.html
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