Cada vez que aparece um clérigo com problemas de ordem sexual, o chavão não se faz esperar: é tudo culpa do celibato. Se um Padre se afasta de seus compromissos de consagração a Deus, e desconsidera seus deveres de dedicação integral ao povo, a explicação é rápida. Se houver um Presbítero infeliz, que se entrega aos impulsos de amores pedófilos, a explicação de tudo está na malfadada promessa do não casamento. Às vezes até pode ser, por falta de uma escolha madura e responsável. Mas o lugar comum é mesmo criticar a praxe da Igreja. Nem sempre essa explicação está na boca dos infiéis. Vez por outra a panacéia flui veloz da pena de pessoas eméritas. Jesus já havia previsto tal atitude diante desse assunto, quando exclama: “nem todos compreenderão, a não ser aqueles a quem é concedido” (Mt 19, 11).
Embora, em outros tempos eu tivesse tido, por uns breves momentos, opiniões contrárias às da Santa Mãe Igreja, estou convencido da perfeita pertinência dessa práxis eclesial. Antes de tudo, porque a recomendação veio de Jesus, o Mestre, que sempre tinha posições de ideais arrojados, mas possíveis. E a Igreja dos primeiros séculos interpretou isso como aplicado aos clérigos. O nosso Salvador não nos poderia ter induzido em erro. O Mestre, que era um varão, sabe compreender as mais íntimas fibras do nosso coração. “Deus conhece os vossos corações” (Lc 16, 15). Ele não nos poderia enganar e nos seduzir para uma missão impossível. Em vez de pleitear a abolição dessa disciplina, precisamos nos aprimorar muito mais na educação e formação dos candidatos ao sacerdócio; valer-nos dos estímulos da espiritualidade e dos valores de uma sã psicologia. Mas não em último lugar, gostaria de acenar para o grande São Paulo que, em questão de vida celibatária, fez desse ideal uma questão de paixão pela pessoa de Jesus. “Estou convencido de que nem a morte nem a vida... nos poderá separar do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo” (Rom 8, 38).
A experiência da virgindade – proposta por Jesus a algumas pessoas – nasce de uma dedicação total. Portanto, não é propriamente renúncia. Mas uma afeição intensa. É uma afetividade nova, provinda de uma pessoa apaixonada. A virgindade é a experiência do cêntuplo, também na afetividade. “Para Deus tudo é possível” (Mt 19, 26).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj - Arcebispo de Uberaba, MG.
Fonte: http://www.presbiteros.com.br/old/Artigos/156.htm
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário